31 de março de 2007

O eterno brilho das estrelas

Em enquete realizada na internet, em 21-03-07, para saber qual das maiores lendas femininas do cinema, entre as dez primeiras do ranking do American Film Institute, deixou mais saudade nos cinéfilos, a eleita foi Audrey Hepburn.
A seguir, o resultado da votação:
1ª) Audrey Hepburn....... 32,05%
2ª) Katharine Hepburn.. 22,4%
3ª) Marilyn Monroe....... 14,9%
4ª) Ingrid Bergman........ 10,8%
5ª) Judy Garland............ 8,1%
As demais, por ordem decrescente de preferência, são: Bette Davis, Elizabeth Taylor (a única viva, mas ausente das telas de cinema desde 1994), Marlene Dietrich, Greta Garbo, Joan Crawford. Votaram 19.049 internautas.
Comentário: Audrey Hepburn foi eleita, em 2006, "a mulher mais bonita de todos os tempos", pelas leitoras da revista norte-americana New Woman.

(Crédito da foto: www.mymovies.it)

30 de março de 2007

Duelo de gigantes: Viacom x Google

A revista Forbes divulgou em seu saite, na última quarta-feira, 28, que a Viacom (controladora da Paramount) está processando o Google e sua subsidiária YouTube para receber US$ 1 bi de ressarcimento por direitos autorais. Enquanto alguns analistas suspeitam que o processo seria mera tátita, "ploy", da Viacom para conseguir um acordo favorável do YouTube, outros acreditam na possibilidade de o caso acabar no tribunal mesmo. Segundo a revista, ambas as empresas dispõem de recursos suficientes para levar a questão a julgamento. A Viacom estaria com mais de US$ 700 mi "in cash", enquanto o Google teria mais de US$ 11 bi à disposição. É briga de cachorro grande.

Jane Fonda sentiu culpa ao ganhar seu 1º Oscar

A atriz Jane Fonda ganhou seu primeiro Oscar num momento em que era ferrenha ativista contra a Guerra do Vietnã. Entretanto, ao receber o prêmio, por sua atuação no filme Klute -- O passado condena (1971), ela não fez qualquer comentário político, ao contrário do que se esperava, a exemplo de outros ganhadores ao longo da história da premiação. Agora já se sabe o motivo de seu comportamento discreto, na ocasião. Em recente entrevista a Robert Osborne, do canal norte-americano TCM, ela revelou que seu pai, o lendário ator Henry Fonda, aconselhou-a a evitar comentários políticos em seu discurso. E confessou que teve sentimento de culpa, por ser premiada antes do pai: "Eu me dei conta de que eu tinha ganhado um Oscar e que meu pai nunca o havia ganho. Eu chorei muito. Parecia realmente uma injustiça."

(Crédito da foto: www.americanphoto.co.jp)

28 de março de 2007

Marlon Brando faz muita falta

Em enquete realizada em 20-03-07, para saber qual o ator norte-americano faz mais falta, entre os dez melhor classificados no ranking do American Film Institute, votaram 23.059 internautas e a escolha recaiu em Marlon Brando.
Eis o resultado da votação:
1º) Marlon Brando......... 27,3% dos votos
2º) James Stewart.......... 24,1%
3º) Cary Grant................ 15,0%
4º) Humphrey Bogart.... 12,8%
5º) Charlie Chaplin......... 9,1%
Os demais votados, por ordem decrescente das preferências, foram: Henry Fonda, Fred Astaire, Clark Gable, Spencer Tracy e James Cagney. Todos eles só estão vivos nos filmes.

(Crédito da foto: www.mondo-exotica.net)

27 de março de 2007

Mais uma estrela na Calçada da Fama

Halle Berry, que já ganhou o Oscar de melhor atriz, por sua atuação no filme A última ceia (2001), vai ser homenageada com uma estrela na Calçada da Fama. Sua estrela será a 2.333ª e ficará bem em frente ao Kodak Theatre, local onde acontece a cerimônia de entrega do Oscar. A inauguração está prevista para a próxima semana.

(Crédito da foto: www.bbc.co.uk)

26 de março de 2007

Filmes raros e antigos de graça

Filmes cujos direitos autorais caíram em domínio público ou expiraram estão disponíveis para "download" gratuito ou visualização em tempo real, na internet. Tudo dentro da lei, sem nenhum risco de acusação de pirataria.
São três as vias que dão acesso tanto a clássicos como O fantasma da ópera (1925) quanto a deliciosas comédias com Cary Grant e até a raridades européias e asiáticas:
1) o Veoh, talvez o serviço mais bem organizado;
2) o Emol, considerado um tanto bagunçado, é o caminho certo para relíquias do cinema e raridades exóticas;
3) o Public Domain Torrents dá acesso, através do software/protocolo Bittorrent, a "download" legalizado de filmes para se ver no DVD, no iPod e até no Playstation Portátil.
No caso do Veoh, exige-se um rápido e gratuito cadastro. O Emol oferece três opções de qualidade: baixa, média e original; na "baixa", a imagem não é boa; na "média", como o termo indica, há melhor nitidez; e na "original", o arquivo é grande e o filme pode ser guardado no computador ou gravado em DVD.
(Fonte: Webinsider)
(Na foto, Lon Chaney como o fantasma da ópera. Crédito: www.cinemaria.it)

25 de março de 2007

Frases que o tempo consagrou

O American Film Institute elegeu, há algum tempo, as 100 frases de diálogo mais antológicas do cinema. O filme E o vento levou (1939) teve três frases escolhidas, uma das quais pegou o primeiro lugar do ranking. Vão a seguir as frases em inglês, com a respectiva posição classificatória, a tradução e a indicação do momento do filme em que são pronunciadas:

) "Frankly, my dear, I don't give a damn." (Francamente, querida, eu não ligo a mínima.)
Obs.: Última fala de Clark Gable.

31ª) "After all, tomorrow is another day." (Afinal, amanhã é outro dia.)
Obs.: Última fala de Vivien Leigh.

59ª) "As God is my witness, I'll never be hungry again." (Com Deus por testemunha, eu nunca mais passarei fome.)
Obs.: Última fala da primeira parte do filme (Vivien Leigh).

(Crédito da foto: www.archinect.com)

21 de março de 2007

Era uma vez em 17 de março de 2007

FREDDIE FRANCIS (89 anos, de causa não divulgada), cinematografista inglês; seu primeiro trabalho foi como assistente de câmera, em 1937, mas só no segundo filme, quando fotografou a parte da África de Covardia (1947), sua carreira começou para valer; foi operador de câmera de 16 filmes, até 1956; nesse mesmo ano, passou a ser diretor de fotografia, atuando em filmes como Almas em leilão (1959), Filhos e amantes (1960), que lhe deu o primeiro Oscar, O homem elefante (1980), Tempo de glória (1989), que lhe deu o segundo e último Oscar, Cabo do medo (1991) e 27 outros, até 1999; a partir de 1962 passou a dirigir também, especializando-se em filmes de terror: Paranóico (1963), O monstro de Frankenstein (1964), Terrível pesadelo (1965), Drácula, o perfil do diabo (1968), e daí para pior, completando 28 filmes em 1987. Ganhou quatro prêmios de melhor fotografia da Sociedade Britânica de Cinematografistas e dois outros, além de oito prêmios honorários (life achievement), sempre por seu trabalho como fotógrafo, bem entendido.

(Crédito da foto: www.stopklatka.pal)

China combate pirataria

A loja Ka de Club, de Xangai, famosa por seu estoque de DVDs pirateados, foi multada por um tribunal local. A corte sentenciou que a loja vendeu ilegalmente DVDs de O senhor dos anéis e Os incríveis, multando-a em 3.200 dólares. O consultor jurídico da Motion Picture Association na Ásia, Frank Rittman, declarou-se desapontado com a insignificância do valor estabelecido pela sentença, segundo noticiou o jornal londrino Financial Times, na terça-feira, 20.

20 de março de 2007

Era uma vez em 15 de março de 2007

STUART ROSENBERG (79 anos, de ataque cardíaco), cineasta norte-americano que teve a sorte de contar com a presença de Paul Newman em quatro de seus filmes: Rebeldia indomável (1967), seu melhor filme, A sala dos espelhos (1970), Meu nome é Jim Kane (1972) e A piscina mortal (1975); seu filme Question 7 (1961), nunca exibido no Brasil, ganhou dois prêmios no Festival de Berlim: OCIC, concedido pela Igreja Católica, e o de melhor filme apropriado para os jovens; seu último trabalho foi My Heroes Have Always Been Cowboys (1991); sua carreira foi mais extensa na TV, onde começou e que lhe deu um Emmy.
Curiosidade: Embora Rosenberg não tenha revelado maior talento como diretor, Paul Newman fez a seguinte declaração a seu respeito: "Ele era tão bom quanto qualquer um com quem eu tenha trabalhado".
(Crédito da foto: www.americanas.com)

18 de março de 2007

Uma lição de cinema de Clint Eastwood

Um bom diretor consegue detectar, por intuição, as possibilidades de um bom roteiro e emprega todo seu talento no sentido de melhor servi-lo. Isto é o que se vê no filme Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood. Todos os recursos técnicos e humanos foram usados para contar, da forma mais precisa possível, sem malabarismos, o drama dos soldados japoneses que lutaram em Iwo Jima.

A fotografia do filme é um caso à parte. A câmera raramente se move. Limita-se a mostrar o comportamento daqueles que vão perder a batalha, como um espectador impassível. Dentro de cavernas e túneis, às vezes trepida, para ampliar o efeito das explosões sobre os abrigos. Quando sai, é para mostrar a superioridade do inimigo, em homens e armas, enquadrando o espaço circundante, quando possível, de jeito a realçar seu lado sinistro, ameaçador.

O diretor optou pela adulteração da cor, aproximando-se do preto e branco, com realce apenas da cor vermelha, por processo digital, nos detalhes da farda, na bandeira japonesa, no sangue dos feridos e no fogo dos lança-chamas e das explosões. Os focos de luz que iluminam os atores foram posicionados na horizontal, em parte para simular a luz natural que penetra nos abrigos, em parte para dar a impressão de que as personagens são espectros. Tanto que a mesma iluminação foi usada também nos momentos em que os soldados saem dos abrigos.

A trilha sonora é quase toda constituída de sons da batalha. A música é usada muito discretamente. Às vezes, quando o bombardeio dá uma trégua, ouve-se um delicado dedilhar no piano. Ela só ganha mais presença nas cenas em flash-back de Kuribayashi nos Estados Unidos.

A história, narrada do ponto de vista do soldado Saigo, tem uma segunda instância narrativa no general Kuribayashi. O primeiro escreve cartas para sua jovem esposa; o segundo, para o casal de filhos e a mulher.

Ninguém, em momento algum, tem a ilusão de que possa ganhar a batalha. Saigo diz, logo no início, que seria melhor entregar a ilha aos norte-americanos, pois ela "fede, é quente, cheia de insetos e não tem água".

Assim que chega à ilha, o general Kuribayashi se põe a traçar uma nova estratégia para a defesa da ilha, com o intuito de resistir às investidas do inimigo pelo maior tempo possível. Ele prevê que, após tomarem posse de Iwo Jima, os norte-americanos irão usá-la como base para atacar o seu país. Por isso, está empenhado em manter o domínio da ilha até o último homem. Além de seu dever para com a pátria, preocupa-o o que possa acontecer a seus filhos. "Se os nossos filhos tiverem mais um dia de paz, terá valido a pena o dia defendido", justifica-se.

O general é informado, antes de a invasão ter início, de que não poderá contar com o apoio nem da força aérea nem da marítima, que acabam de sofrer sérios reveses. E no curso da batalha, as dificuldades se sucedem. Metralhadoras destroçadas não podem ser repostas, e a munição vai aos poucos se esgotando. Quando os invasores tomam o monte Suribachi, entra em cena um inimigo interno da alma japonesa. O coronel Adachi, responsável pela defesa do monte, resolve cometer suicídio e exige que seus subordinados façam o mesmo, em nome da honra. Vários se matam, usando granadas, e as explosões são brutais.

O pelotão comandado pelo tenente-coronel Nishi recolhe um soldado norte-americano ferido. Nishi, que sabe inglês, conversa com ele amistosamente. Conta-lhe que competiu nas Olimpíadas de Los Angeles de 1932 e ficou amigo do casal de estrelas do cinema Mary Pickford e Douglas Fairbanks. O soldado morre, em conseqüência dos ferimentos, e Nishi pega o papel que ele tem na mão. É uma carta de sua mãe, que dirige ao filho palavras de consolo e de incentivo para que ele faça o que deve ser feito. Ao ficar cego numa explosão, Nishi se despede de seus subordinados, que partem em busca de novo abrigo, encorajando-os com frases que leu na carta do soldado morto.

Depois de vários dias sem água e comida, dois soldados decidem se render ao inimigo, por terem ouvido dizer que os norte-americanos dão água e comida aos que se rendem. De fato, logo recebem cada qual um copo d'água e se sentem bem. Mas o pelotão, ao se deslocar, os deixa sob a guarda de soldados impiedosos.

Quando cai ferido, o general Kuribayashi decide se auto-sacrificar e pede a Saigo que o enterre, para que seu corpo não seja encontrado. Após cumprir o que prometera ao general, Saigo é feito prisioneiro. E, quando vê a arma com que o general se matara presa ao cinto de um norte-americano, ele se unfurece e brande a pá que ainda tem nas mãos, tentando, com as energias que lhe restam, atingir os inimigos. Até que é derrubado e posto fora de combate. No final, porém, fica-se sabendo que ele foi poupado.

Embora o filme seja a expressão da idéia de que a guerra é uma estupidez inútil, pode ser que Eastwood tenha aproveitado a oportunidade para expor seu ponto de vista sobre a conduta de um soldado no campo de batalha. Os dois únicos soldados que são mostrados como possíveis sobreviventes não se renderam. Além de Saigo, outro japonês pode ter sido poupado. Ele perdeu a esperança de sair vivo, mas tem a intenção de destruir um tanque inimigo com ele. Pendura no corpo algumas minas, borra o rosto com o sangue de um morto e se deita, como se morto estivesse, à espera de que um tanque passe sobre ele. Mas acaba sendo aprisionado. Os valentes, sem dúvida, merecem viver.

Para um diretor de Hollywood, havia o risco de resvalar para a antipatia aos japoneses, que eram os inimigos, ou para o sentimentalismo fácil, já que enfoca os perdedores. Mas o veterano Eastwood conseguiu equilibrar-se sobre uma linha tênue, em terreno mais que minado. Mostrou os japoneses como seres humanos sensíveis ou heróicos, sem omitir os aspectos negativos de sua cultura à época. Não é pouco, mesmo contando com a ajuda de uma roteirista japonesa.

Do alto de seus 76 anos, o diretor realizou a síntese entre o bem e o mal para visitar os fantasmas de Iwo Jima com os olhos da compaixão. E o resultado é surpreendente. Filmes como esse, que causam impacto, provocam mossa, estão se tornando cada vez mais raros. Pior para o cinema.
(Texto publicado pelo semanário Jornal Opção, de Goiânia, edição de 11 a 17 de março de 2007. Acesse: www.jornalopcao.com.br)

(Crédito da foto: expresso.clix.pt)

'Babel' na China

O filme Babel, do mexicano Alejandro González Iñárritu, estreou na China na última segunda-feira, 12. Antes, porém, sofreu cortes de cerca de cinco minutos, em cenas consideradas "sexualmente explícitas demais" pelos censores chineses. As cenas castradas são aquelas em que uma jovem japonesa -- interpretada por Rinko Kikuchi, indicada ao Oscar -- tenta seduzir um homem mais velho, afastando a saia e mostrando-lhe a genitália. O governo chinês só permite a exibição de 20 filmes estrangeiros por ano. E desde que cortadas as cenas de violência, de sexo ou politicamente polêmicas.
(Crédito da foto: www.alarm-alarm.com)

14 de março de 2007

Era uma vez em 12 de março de 2007

BETTY HUTTON (86 anos, de causa não divulgada), cantora e atriz norte-americana, que estreou em 1939, num curta-metragem, e se tornou uma das mais requisitadas atrizes de musicais e comédias, a exemplo de Papai por acaso (1944), A tentação da sereia (1944), Brasa viva (1949), Bonita e valente (1950) e Nasci para bailar (1950), em que foi parceira de Fred Astaire; uma raridade em sua carreira foi o gênero drama, como O maior espetáculo da terra (1952) e O amor chegou com a primavera (1957), com o qual se despediu do cinema, após 21 filmes. Ganhou os prêmios Golden Apple, em 1944, como a atriz mais cooperativa; Photoplay, em 1950, como a mais popular estrela feminina, por Bonita e valente, além de um estrela na Calçada da Fama.

(Crédito da foto: www.filmforum.org)

13 de março de 2007

Era uma vez em 10 de março de 2007

RICHARD JENI (49 anos, de suicídio), compositor, roteirista, produtor e, sobretudo, ator norte-americano, que trabalhou mais para a TV; no cinema, estreou em pequeno papel de Bird (1988), de Clint Eastwood, e apareceu em dois outros filmes apenas, um dos quais foi O máscara (1994), com Jim Carrey. Admirado como comediante, recebeu o Prêmio da Comédia Americana, em 1993, como o mais engraçado comediante masculino.

(Crédito da foto: http://www.voy.com/)

10 de março de 2007

Tarantino, cineasta amador

O cineasta norte-americano Quentin Tarantino, que completará 44 anos no próximo dia 27, rejeita a idéia de que seja um diretor profissional. Ele tem na realização de filmes um hobby e não um trabalho. Embora dirija filmes há 20 anos, ele se recusa a participar do Sindicato dos Diretores, declarando: "Prefiro continuar na minha condição de amador".

(Crédito da foto: www.icicom.up.pt)

9 de março de 2007

Assim pensava Paulo Francis 3

[Graham] Greene não diz palavra sobre a contribuição de [Orson] Welles ao filme [O terceiro homem], uma fala expressiva que [Andrew] Sarris considera niilista, aquela em que ele diz que os Borgias governaram a Itália por 30 anos, com guerras e o diabo, e houve a Renascença, enquanto que os suíços tiveram 500 anos de amor fraternal e produziram o cuco. A fala não consta do 'script' de Greene (que ele publicou como noveleta). Mas Welles, que a deve ter inventado, ganhou mais fama por esse papel do que por 'Cidadão Kane', digo, como ator.
(Folha de S. Paulo, 06-02-88)

E em 'O Terceiro Homem', sua aparição maravilhosa numa entrada de rua em Viena, com zítara, gato, luzes do diretor Carol Reed e sua cara de lua, irônica e detaché. Falando nisso, quem escreveu que os suíços em 500 anos de paz produziram só o cuco não foi Welles, foi Graham Greene, autor do 'script'.
(Folha de S. Paulo, Revista d, 21-10-90)

Que bobagem Orson Welles diz em O terceiro homem, The third man, estragando o script de Graham Greene. Fala que em quinhentos anos de paz os suíços só produziram o cuco. Os suíços produziram Rousseau, que é a raiz de todo o pensamento revolucionário, fonte e origem do conceito pós-religioso de utopia. E Calvino, o pensador religioso mais influente depois de Jesus Cristo.
(O Estado de S. Paulo, 20-05-93)

Rodando o botão pelos cabos, dou com "O terceiro homem". Orson Welles, no elevador, pontifica para Joseph Cotten que a criatividade humana vem de conflitos. A Itália, sob Borgias e Medicis, gerou a Renascença. Já na Suíça, continua Welles, "Harry Lime", 500 anos de paz, deu o cuco. Cinéfilos têm muito orgulho dessa "filosofada" de um dos seus ícones. A Suíça deu Jean-Jacques Rousseau, que é o pensador humanista mais revolucionário que já existiu. (...) Suíço é também Calvino, o pensador religioso mais influente depois de São Paulo, apóstolo.
(O Globo, 10-07-94)

O que disse a respeito Orson Welles: Tudo o que lhes quero dizer, é que escrevi inteiramente o papel de Harry Lime, porque me pus a pensar nessa personagem procedendo por piadas. Não sou o autor da anedota do cuco, tirei-a duma peça húngara. Agora, sabem, cada peça húngara é o plágio de outra peça húngara, a quem atribuir a paternidade dessa anedota? Lembro-me de ter ouvido essa piada na minha infância, não exatamente a mesma, mas quase. Vêem que é uma piada muito velha. E o mais engraçado é que o relógio cuco é fabricado na Floresta Negra, não na Suíça.
(Entrevista a André Bazin, Charles Bitsch e Jean Domarchi, publicada nos Cahiers du Cinéma nº 87, setembro de 1958)

(Crédito da foto: www.sergiosakall.com.br)

6 de março de 2007

John Wayne para todos os gostos

As divisões de vídeo da Warner Bros. e da Paramount se uniram para uma inciativa sem precedentes. Vão lançar, de uma só vez, 48 filmes de John Wayne. O dia escolhido foi 22 de maio, por ser, dizem, a data do centésimo aniversário de nascimento do ator. Serão 34 filmes da Warner Home Video e 14 da Paramount Home Entertainment. O anúncio foi feito na segunda-feira, 5.
Comentário: Um evento comercial dessa magnitude só é possível por causa do apelo que a figura de John Wayne continua tendo junto ao público norte-americano. Seu nome ficou em 3º lugar, na última enquete Harris, entre as estrelas preferidas dos cinéfilos dos Estados Unidos. A enquete Harris é realizada anualmente. John Wayne nasceu em 26 de maio de 1907.

(Crédito da foto: www.sheilaomalley.com)

4 de março de 2007

Desconstruindo a guerra

Na primeira cena de A Conquista da Honra, (Flags of Our Fathers, 2006), Clint Eastwood dá o tom do filme. A câmera gira espetacularmente em volta de um soldado perdido em terreno arrasado, ouvindo vozes de soldados mortos chamando pelo enfermeiro. Em seguida se esclarece que a imagem é a expressão do pesadelo do enfermeiro John Bradley, sobrevivente da batalha de Iwo Jima. O filme se propõe a desconstruir a guerra, mas usando de toda a parafernália tecnológica que torne a matança fotogênica. Convém ter presente que Steven Spielberg é um dos produtores do filme.

Com um roteiro engenhoso nas mãos, extraído do livro homônimo da dupla James Bradley, filho de John, e Ron Powers, Eastwood articula duas narrativas paralelas. De um lado, os esforços de James para reconstituir a história do pai, de outro, a trajetória de três soldados que participam de uma campanha de arrecadação de fundos. E, intercaladas sabiamente ao longo do filme, cenas da batalha de Iwo Jima, reconstituídas com efeitos visuais e sonoros exuberantes.

Um detalhe do filme, em especial, evidencia o domínio que Eastwood tem da técnica cinematográfica. Quando a tropa desembarca em Iwo Jima, ele mostra as armas japonesas sendo posicionadas, sem que se veja quem as está manejando. Depois ele muda o ângulo da câmera para mostrar, do ponto de vista dos japoneses, os estragos na tropa norte-americana provocados pelas rajadas de metralhadora e pelos disparos de canhão.

Produzido no momento em que os Estados Unidos estão atolados no areal do Iraque, o filme parece ter sido feito justamente para servir como uma ducha de água fria no ânimo do povo norte-americano. Aqui, vê-se um soldado evaporar numa explosão; ali, aparece uma cabeça sem o corpo; acolá, um grupo é vítima de fogo-amigo. Eastwood não se esqueceu nem da locutora da rádio alemã a fazer insinuações sobre a conduta das esposas deixadas sós em casa. Para coroar tudo, a farsa da fabricação de heróis e o cinismo dos vendedores de bônus de guerra.

O foco da trama é uma foto de seis soldados levantando a bandeira norte-americana no ponto mais alto da ilha de Iwo Jima, o monte Suribachi. A foto ganha o mundo na primeira página dos jornais, e, então, os chefes militares têm a idéia de pegar os três sobreviventes do grupo -- René Gagnon, Ira Hayes e John Bradley -- e mover uma campanha nacional de arrecadação de fundos para financiar a guerra. Mas o filme se encarrega de desmontar, gradativamente, toda a fantasia construída em torno da foto e dos supostos heróis que nela aparecem.

Desde o início, o filme coloca a questão da influência das imagens nos destinos de uma guerra. Ao ser entrevistado por James Bradley, um sabichão diz que foi graças à tal foto que os Estados Unidos derrotaram o Japão, assim como a Guerra do Vietnã foi perdida por causa de uma foto -- aquela do vietnamita indefeso tendo a cabeça trespassada por uma bala. Bobagem. É evidente que foto nenhuma tem tanto poder. É delírio de quem vive da manipulação de imagens.

Já que a premissa do filme é que os Estados Unidos derrotaram os japoneses, na II Guerra Mundial, graças à exploração habilidosa de uma foto, Eastwood, espertamente, encaixou uma "explicação" para a derrota no Vietnã, usando o reverso do argumento. Se colar, o governo Bush poderia alegar que o atoleiro no Iraque é decorrente daquelas vexaminosas fotos de Abu Ghraib.

Para resumir a ópera, a personagem do filho do enfermeiro opina: "Herói é algo que nós construímos, é algo de que precisamos". Bela filosofia de botequim. Uma leitura mais atenta do filme pode conduzir a outra conclusão. As crises de consciência de Ira Hayes, que explicam sua bebedeira, decorrem do fato de ele considerar heróis somente os companheiros que morreram na batalha. Ele chega a viajar 2 mil quilômetros só para contar ao pai de um soldado morto que seu filho estava no grupo que levantou a bandeira. E John Bradley vive atormentado, até o instante de sua morte, pela lembrança da perda do amigo Iggy, que evaporou durante a batalha.

Com isso, chega-se a uma das frases-rótulo ("tagline", em inglês) usadas para divulgar o filme nos Estados Unidos: "Every soldier stands beside a hero", traduzida no Brasil para: "Ao lado de cada soldado há um herói". A idéia do filme, deduz-se, é que só são heróis os mortos. O que se contrapõe ao que pensava Samuel Fuller, veterano da II Guerra, que fez sua súmula sobre a guerra no filme Agonia e Glória (1980). Para ele, o único heroísmo na guerra é sobreviver.

Mas A conquista da honra parece tangenciar uma questão interssante. Talvez o problema da imagem do herói esteja na dificuldade de se dar um rosto ao heroísmo que sem dúvida se faz presente na guerra. Uma batalha em que a proporção de mortos foi da ordem de três japoneses para um norte-americano teve certamente seus heróis. E não se pode negar que as imagens têm um papel a cumprir no teatro da guerra. Se o uso da foto da bandeira no monte Suribachi serviu para incentivar a população norte-americana a tirar o escorpião do bolso e entregar os dólares necessários num momento crucial da guerra, foi bem feito. Afinal, na guerra, como no amor, vale tudo.
(Texto publicado pelo semanário Jornal Opção, de Goiânia, edição de 25-02 a 03-03-2007. Acesse: http://www.jornalopcao.com.br/)


(Crédito da foto: http://www.bomdiariopreto.com.br/)

2 de março de 2007

Era uma vez em 1º de março de 2007

CARVALHINHO (79 anos, de parada cardíaca), ator brasileiro, que estreou no cinema na comédia Caídos do céu (1946), mas só teve uma segunda chance em Com jeito vai (1957), quando mergulhou direto na chanchada; raramente teve oportunidade em uma produção mais ambiciosa, como As duas faces da moeda (1969), de Domingos de Oliveira; como seu forte era a comédia, foram muitas pornochanchadas e alguns filmes dos Trapalhões, até a fonte secar, com A boca do prazer (1984); só voltou ao cinema em Irma Vap -- O retorno (2006), para se despedir; ao todo, foram 27 filmes.

(Crédito da foto: gazetaonline.globo.com)

1 de março de 2007

Paramount fará filmes para o DVD

O mercado norte-americano de DVD, cujas vendas atingiram a cifra de 16,6 bilhões de dólares em 2006, já pode sustentar a produção de filmes. A Paramount, um dos estúdios mais importantes de Hollywood, decidiu criar uma divisão para produzir filmes a serem lançados diretamente em DVD, sem passar pelas salas de cinema. A unidade será dirigida por Louis Feola, que teve experiência com esse tipo de trabalho na Universal. A Paramount pretende lançar no mercado continuações ("sequels" e "prequels") de grandes sucessos do cinema, recorrendo ao sistema de franquia.