28 de maio de 2009

Um petardo contra o politicamente correto

Ouve-se muito falar que este ou aquele filme é uma obra-prima. Mas que qualidades um filme precisa ter para ser considerado como tal? Uma fábula de dinheiro investido? Um elenco cheio de estrelas? Efeitos especiais deslumbrantes? Intenções artísticas evidentes? Nenhum desses ingredientes por si só nem todos reunidos garantem que um filme seja uma obra-prima.


Às vezes o filme merecedor desse qualificativo é tão despretensioso que passa despercebido à primeira vista, dependendo de um distanciamento temporário para ter suas qualidades ressaltadas. De pronto, é sempre arriscado afirmar que um filme é ou não “primus inter pares”. Entretanto, diante de Gran Torino (Idem, 2008), dirigido e estrelado por Clint Eastwood, vale a pena correr o risco: trata-se de uma obra-prima.

Ele custou 35 milhões de dólares – uma ninharia, considerados os custos atuais em Hollywood. O filme anterior de Eastwood, "A Troca”, consumiu 55 milhões de dólares; “Homem de Ferro”, 140 milhões de dólares; “O Curioso Caso de Benjamin Button”, 150 milhões de dólares. E este valor ainda não é o cume. É preciso somar a ele o orçamento de "Gran Torino" para se chegar ao custo das produções mais caras de 2008, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” e “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”: 185 milhões de dólares cada um.

"Gran Torino", que tem apenas uma estrela no elenco, o próprio Eastwood, não apresenta efeitos especiais notáveis. E não ostenta qualquer pretensão, senão a de divertir o espectador e transmitir-lhe uma lição de vida, no exemplo do seu protagonista.

O papel de Walt Kowalski serviu como uma luva para Eastwood: um velho impertinente e ultranacionalista, com a bandeira de seu país sempre desfraldada à frente da casa. Atencioso apenas com a sua cadela e seu Ford Gran Torino 1972, que trata como relíquia, põe-se a rosnar expressões ofensivas ou a cuspir quando vê alguém que o aborrece, quer dizer, todo o mundo à sua volta.

Seus vizinhos brancos se mudaram e só ele permanece no bairro, cercado de orientais da etnia hmong, oriundos do Vietnã e arredores. Gente que ele não suporta e que lhe paga na mesma moeda. Nem a viuvez o faz aproximar-se dos dois filhos, os quais despreza, assim como as noras e, mais ainda, os netos.

Veterano da Guerra da Coreia, ele porta arma de fogo e a exibe para solver os conflitos de rua que presencia. Seus desafetos, esses são mantidos a distância sob ameaças verbais e gestuais. Por seu comportamento, ninguém pode imaginar a nobreza de seu coração ou a magnanimidade que reserva aos que conquistam a sua afeição.

Nas voltas do mundo, Kowalski acaba afeiçoando-se aos jovens Sue e Thao, casal de irmãos hmong, órfãos e carentes da figura paterna. E, para protegê-los das gangues de etnias várias (orientais, latinos, negros) que infestam o bairro, não tem mãos a medir. A vingança que arquiteta contra os agressores de Sue é singular e profundamente cristã. Como na metáfora bíblica, o seixo desprezado revela-se a pedra angular.

É comovente a cena em que o cascagrossa chora, revelando a sua humanidade. Um momento único, mais relevante do que o primeiro riso de Greta Garbo no cinema. Merecia uma campanha publicitária do tipo “Eastwood chora!”, a exemplo daquela feita para promover o filme “Ninotchka” (1939), “Garbo ri!”.

Eastwood, que nunca escreveu um roteiro, sabe como poucos dar vida aos que lhe são confiados. E o de "Gran Torino", à luz do consenso reinante, passa longe da perfeição. Mas as possíveis inconsistências, aplanadas pela força da dramaturgia eastwoodiana, transfiguram-se em potência. A história pega o espectador de jeito e vai de uma surpresa a outra até o golpe final.

De tudo que virou tabu o filme faz piada: etnias, profissões, idade, sexo. Ao praticar o humor politicamente incorreto, Eastwood vai contra a corrente que domina o cinema atual, e não só em Hollywood. E o riso funciona como contrapeso importante para a dramática reviravolta final.

Um artista não atinge o apogeu de sua arte sozinho, sobretudo no caso do cinema, que abrange áreas criativas diversas. Por trás do sucesso de Eastwood está um grupo de colaboradores assíduos. Alguns que de início exerciam ofícios humildes, graças às oportunidades que lhes deu, ascenderam a funções capitais.

Um exemplo é Tom Stern, que começou na função mais modesta e, desde “Dívida de Sangue” (2002), responsabiliza-se pela fotografia de todos os seus filmes. O músico Lennie Niehaus, outro parceiro constante, passou de compositor a supervisor musical e, por fim, a orquestrador e regente. Joel Cox, por sua vez, vem participando da montagem de seus filmes desde os anos 1970.

Competente em tudo que faz, Eastwood é também um cavalheiro, com um código de valores muito particular, e sabe com clareza o que quer alcançar sem temer a dissensão. Ninguém melhor, portanto, para disparar esse petardo contra a mediocrização do politicamente correto. Ousadia que já por si merece o nosso aplauso.
(Texto publicado pelo Jornal Opção de 19 a 24 de abril de 2009 e pelo saite Revista Bula.)

Era uma vez em 4 de maio de 2009

JANE RANDOLPH (93 anos, de complicações de uma cirurgia no quadril), atriz norte-americana que só fez filmes na década de 1940; apareceu em duas dezenas de filmes, entre os quais Sangue de Pantera (Cat People, 1942) e A Maldição do Sangue de Pantera (The Curse of the Cat People, 1944).


Dados biográficos: Jane Roemer nasceu em 30 de outubro de 1915, em Youngstown, Ohio. Afastou-se do cinema em 1949, quando se casou com o produtor espanhol Jaime del Amo (com quem teve uma filha) e mudou-se para Madrid. Faleceu na Suíça, onde residia.

27 de maio de 2009

Era uma vez em 26 de maio de 2009

LEINA KRESPI (70 anos, de câncer no esôfago), atriz brasileira mais dedicada à TV que ao cinema; atuou em apenas dez filmes, entre os quais Amor e Desamor (1966), As Duas Faces da Moeda (1969), A Casa Assassinada (1971), Joanna Francesa (1975) e O Viajante (1999). Nascida Leina Perelman da Matta, em 18 de dezembro de 1938, no Rio de Janeiro, tinha duas filhas.

24 de maio de 2009

Cannes 2009: a lista dos premiados

A 62ª edição do Festival de Cannes encerrou-se hoje e os principais premiados foram:
1 - Palma de Ouro (melhor filme): A Fita Branca (Das weisse band, Áustria/França/Alemanha, 2009), de Michael Haneke
2 - Grânde Prêmio do Júri: Un prophète (França/ Itália, 2009), de Jacques Audiard
3 - Melhor Ator: Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, EUA/ Alemanha, 2009)
4 - Melhor Atriz: Charlotte Gainsbourg, por Anticristo (Antichrist, Dinamarca/ Alemanha/França/Suécia/Itália/Polônia, 2009)
5 - Melhor Diretor: Brillante Mendoza, por Kinatay (Filipinas/França, 2009)
6 - Melhor Roteiro: Lou Ye, por Spring Fever (China/ Hong Kong/França, 2009)
7 - Prêmio do Júri: Bakjwi (Coréia do Sul, 2009), de Park Chan-wook, e Fish Tank (Reino Unido, 2009), de Andrea Arnold
8 - Prêmio Especial: Alain Resnais
9 - Câmera de Ouro (melhor primeiro filme): Samson and Delilah (Austrália, 2009), Warwick Thornton.

Era uma vez em 20 de maio de 2009

LUCY GORDON (28 anos, aparentemente de suicídio por enforcamento), atriz britânica que atuou em apenas oito filmes, dentre os quais sobressaem Escrito nas Estrelas (Serendipity, 2001), As Quatro Plumas (The Four Feathers, 2002) e Homem-Aranha 3 (Spider-Man 3, 2007); deixou dois outros filmes na fase de pós-produção. Nasceu em 22 de maio de 1980, em Oxford, Inglaterra.

Era uma vez em 15 de maio de 2009

CHARLES 'BUD' TINGWELL (92 anos, de câncer de próstata), ator australiano que nas décadas de 1950 e 60 teve seu momento de glória no Reino Unido; atuou em mais de 50 filmes, entre os quais Ratos do Deserto (The Desert Rats, 1953), Tarzan, o Magnífico (Tarzan the Magnificent, 1960), Drácula - O Príncipe das Trevas (Dracula: Prince of Darkness, 1966), Um Grito no Escuro (Evil Angels, 1988) e Amor, Eterno Amor (Innocence, 2000).


Dados biográficos: Charles William Tingwell nasceu em 3 de janeiro de 1917, em Coogee, New South Wales, Austrália. Era viúvo e tinha um casal de filhos.

20 de maio de 2009

Era uma vez em 20 de maio de 2009

OLEG YANKOVSKY (65 anos, de câncer no pâncreas), ator russo muito popular em seu país, que trabalhou também no exterior; atuou em mais de 50 filmes, dos quais poucos são conhecidos no Brasil, como O Espelho (Zerkalo, 1975) e Nostalgia (Nostalghia, 1983), ambos de Andrei Tarkovsky, Testemunha Muda (Mute Witness, 1994) e Por Que Choram os Homens (The Man Who Cried, 2000). Ganhou quatro prêmios de melhor ator: um do Festival de Valladolid, Espanha, um da Associação de Críticos de Cinema da Rússia e dois Nika, o prêmio mais importante do cinema russo.


Dados biográficos: Oleg Ivanovich Yankovsky nasceu em 23 de fevereiro de 1944, em Jezkazgan, Kazaquistão. Era irmão do ator Rostislav Yankovsky e pai do ator e diretor Filipp Yankovsky.

5 de maio de 2009

Era uma vez em 4 de maio de 2009

DOM DeLUISE (75 anos, de câncer), ator norte-americano que atuou em mais de 40 filmes, mas ficou mais conhecido por sua atuação em cinco comédias de Mel Brooks: Banzé na Rússia (The Twelve Chairs, 1970), Banzé no Oeste (Blazing Saddles, 1974), A Última Loucura de Mel Brooks (Silent Movie, 1976), A História do Mundo - Parte I (History of the World: Part 1, 1981) e A Louca, Louca História de Robin Hood (Robin Hood: Men in Tights, 1993); experimentou a direção com Três Super-Tiras (Hot Stuff, 1979). Ganhou uma estrela na Calçada da Fama.


Dados biográficos: Dominick DeLuise nasceu em 1º de agosto de 1933, em Nova York. Era filho de um imigrante italiano. Deixou viúva a atriz Carol Arthur, com quem tinha três filhos: Peter DeLuise, Michael DeLuise e David DeLuise, todos atores.