25 de julho de 2011

MICHAEL CACOYANNIS (1922-2011), diretor

O cineasta greco-cipriota Michael Cacoyannis morreu hoje, em Atenas, aos 89 anos.
Cacoyannis é mais conhecido pelo filme "Zorba, o Grego" (Alexis Zorbas, 1964), com Anthony Quinn, mas ele dirigiu outros ótimos filmes, especialmente três baseados em tragédias clássicas de Eurípedes: "Electra, a Vingadora" (Ilektra, 1962), "As Troianas" (The Trojan Women, 1971) e "Iphigenia" (Ifigeneia, 1977).
Nasceu Mihalis Kakogiannis em 11 de junho de 1922, em Limassol, Chipre.

23 de julho de 2011

LINDA CHRISTIAN (1923-2011), atriz

A atriz americana Linda Christian morreu ontem de câncer, em Palm Springs, aos 87 anos.
Por sua beleza, Linda foi apelidada pela revista americana Life de Bomba Anatômica. Ela participou de diversos filmes em Hollywood, entre eles "Tarzan e as Sereias" (Tarzan and the Mermaids, 1948) e "O Amor, Sempre o Amor" (The Happy Time, 1952).
A partir do final dos anos 1950 ela, que falava sete idiomas, passou para o cinema europeu, atuando em filmes como "Passageiro de Última Hora" (Abschied von den Wolken, 1959), "Gente Muito Importante" (The V.I.P.s, 1963) e Os Bravos da Arena" (Il momento della verità, 1965).
Linda foi a primeira "Bond girl", no telefilme "Casino Royale" (1954).
Nascida Blanca Rosa Henrietta Stella Welter Vorhauer em 13 de novembro de 1923, em Tampico, México. Foi casada com o ator Tyrone Power (1914-1958), com quem teve duas filhas, as atrizes Taryn Power e Romina Power; e com o ator Edmund Purdom (1924-2009).

20 de julho de 2011

No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939), de John Ford


Ainda no início do filme, quando a diligência parte de Tonto rumo a Lordsburg, quase todo o background do enredo e das personagens já está posto. John Ford, o diretor do filme, sabia fazer isto com muita competência e economia de meios.

Sabe-se, por exemplo, que Gerônimo e seu bando de índios renegados estão atacando propriedades de colonos; que o fora-da-lei Luke Plummer encontra-se em Lordsburg; que Ringo Kid escapou da prisão e, provavelmente, também se dirige para lá, a fim de vingar o assassinato, cometido por Plummer, de seu pai e seu irmão.

Desde Bisbee, o ponto inicial da linha, a diligência traz dois passageiros que prosseguirão até Lordsburg: Lucy Mallory, mulher de um oficial da Cavalaria, e Peacock, vendedor itinerante de uísque.

Em Tonto, outros passageiros embarcam: a prostituta Dallas, expulsa da cidade pelas megeras da Liga da Lei e da Ordem; o médico alcoólatra Josiah Boone, expulso pela senhoria por não pagar o aluguel; Hatfield, notório jogador profissional, que conhece a sra. Mallory e resolve acompanhá-la para protegê-la; e o banqueiro Gatewood, que acaba de roubar seu próprio banco.

O xerife de Tonto, Curly, responsável pela recaptura de Ringo, ao ser informado por Buck, o cocheiro, de que Plummer está em Lordsburg, deduz que Ringo também deve estar indo para lá e assume a função de guarda da diligência. O que ele não imagina é que Ringo precisou abandonar seu cavalo e está à espera da diligência. De Tonto, a diligência parte acompanhada de uma patrulha da Cavalaria.

Uma vez completa a lotação, após o embarque de Ringo, os passageiros se dividem em dois subgrupos: de um lado, os párias sociais Ringo, Dallas e dr. Boone; do outro, Lucy, Hatfield e Gatewood, representantes da elite emproada. Nesta divisão, Peacock não se inclui por ser de uma categoria à parte, sensato e conciliador, mais parecido com um clérigo.

À medida que a diligência avança pela paisagem deslumbrante do Monument Valley, os passageiros se conciliam em duplas, segundo suas afinidades: Ringo e Dallas, o par romântico: Lucy e seu protetor Hatfield, herdeiros da aristocracia sulista; dr. Boone e seu fornecedor de uísque, Peacock. Nesta forma de associação, fica sobrando Gatewood, que não tem a simpatia de ninguém.

A viagem é pontuada por vários episódios, uns pitorescos, outros dramáticos. Merece destaque a entrada em cena de Ringo, certamente uma das mais espetaculares da história do cinema. A diligência segue sem problemas à vista quando se ouve um tiro. Os soldados da Cavalaria estão distanciados, atravessando um riacho. De repente, John Wayne aparece à beira da estrada, com a sela numa mão e um rifle na outra. E, num movimento tão rápido que o cameraman nem consegue manter o foco, a câmera avança até ter seu rosto em close-up. Depois que Ringo embarca, a Cavalaria toma outro destino, deixando a diligência desprotegida.

Na parada para o almoço, em Dry Fork, John Ford exibe sua expertise na mise-en-scène. Enquanto o dr. Boone bebe no balcão com Billy Pickett, chefe do posto e seu camarada de armas nos tempos da Guerra da Secessão, Lucy se senta à cabeceira da mesa, tendo Gatewood por perto. Ringo percebe a timidez de Dallas, que se mantém afastada, e a convida a se sentar ao lado dele. Ela aceita o convite e se senta próximo de Lucy, o que não é bem visto por esta nem por Hatfield, que arranja uma desculpa e leva sua protegida para a outra ponta da mesa. Gatewood os acompanha.

Nessa cena, que serve principalmente para explicitar a rejeição aos párias pelos representantes da elite, Peacock nada tem a fazer. Num instante é visto de costas, olhando pela janela, depois desaparece.

Outra cena excepcional é a da apresentação dos índios. Posicionada no alto, a câmera enquadra a diligência, que avança ao longe no fundo do vale. A distância faz a diligência parecer muito pequena e frágil. Num chicote (movimento panorâmico muito rápido), a câmera gira e, ao som de uma fanfarra de grande impacto, enquadra o grupo de índios sobre o penhasco, observando a diligência com frieza. O que se temia desde o início acontece: a diligência está ao alcance dos índios.

O filme é rico em fontes de humor. Uma delas é o cocheiro gorducho, cuja covardia e voz esganiçada não combinam com seu porte físico avantajado; além disso, ele está sempre pensando em comida ou reclamando dos parentes da sua mulher. Outra fonte, obviamente, é o médico bebum. Também Chris, o gerente do posto em Apache Wells, cuja mulher índia foge na sua égua de estimação, para o seu desespero – não pela mulher, mas pela égua, que, nas duras condições do oeste, tinha importância capital.

O filme não contém apenas um clímax, como é usual, mas dois. O primeiro se dá na perseguição à diligência pelos índios, quando os viajantes penam um bocado para se defenderem, e que constitui uma das sequências mais emocionantes da história do faroeste. Afinal, são salvos pela Cavalaria. O último clímax tem lugar no duelo noturno em Lordsburg, entre Ringo e os irmãos Plummer.

Se bem que o filme não faça referência explícita à época em que se passa a história, pode-se inferir qual seja pela presença de Gerônimo, personagem real. Foragido da reserva de São Carlos em 1881, ele liderou ataques contra os brancos na fronteira dos Estados Unidos com o México até 1886, quando foi recapturado e passou a viver sob vigilância até sua morte. Portanto, o enredo do filme se encaixa no período entre 1881 e 1886.

Este foi o primeiro filme de John Ford a ter locações no Monument Valley, que se tornou desde então a geografia imaginária de vários de seus faroestes: nove ao todo. A viagem da diligência dura dois dias e se situa inteiramente dentro desse magnífico vale, cuja extensão não chega a 50 km.

Por tudo que encerra de engenhoso e belo, o filme recebeu um julgamento insuperável do crítico francês Jean Mitry. No seu livro sobre John Ford, publicado em 1954, ele disse que No Tempo das Diligências “é uma das obras mais perfeitas do cinema”.

15 de julho de 2011

Festival de Paulínea tomado por 'Febre do Rato'

No Festival de Paulínea, encerrado ontem, o filme "Febre do Rato" foi o grande vencedor. Conquistou oito prêmios, inclusive os de melhor filme pelo júri e pela crítica.
Os prêmios foram anunciados por Marina Person e Rubens Ewald Filho.
A seguir, a lista completa dos longas-metragens premiados:

A - Júri oficial:
1 - Melhor filme (ficção): "Febre do Rato", de Cláudio Assis
2 - Melhor documentário: "Rock Brasília - Era de Ouro", de Vladimir Carvalho
3 - Melhor diretor (ficção): Selton Mello, por "O Palhaço"
4 - Melhor diretor (documentário): Maíra Bühler e Matias Mariani, por "Ela Sonhou Que Eu Morri"
5 - Melhor ator: Irandhir Santos, por "Febre do Rato"
6 - Melhor atriz: Nanda Costa, por "Febre do Rato"
7 - Melhor ator coadjuvante: Moacir Franco, por "O Palhaço"
8 - Melhor atriz coadjuvante: María Pujalte, por "Onde Está a Felicidade?"
9 - Melhor roteiro: Selton Mello e Marcelo Vindicatto, por "O Palhaço"
10 - Melhor fotografia: Walter Carvalho, por "Febre do Rato"
11 - Melhor montagem: Karen Harley, por "Febre do Rato"
12 - Melhor som: Gabriela Cunha, Daniel Turini e Fernando Henna, por "Trabalhar Cansa"
13 - Melhor direção de arte: Renata Pinheiro, por "Febre do Rato"
14 - Melhor trilha musical: Jorge du Peixe, por "Febre do Rato"
15 - Melhor figurino: Kika Lopes, por "O Palhaço"
16 - Prêmio especial do júri: "Trabalhar Cansa"

B - Júri popular:
1 - Melhor filme (ficção): Carlos Alberto Riccelli, por "Onde Está a Felicidade?"
2 - Melhor documentário: "À Margem do Xingu - Vozes Não Consideradas", de Damià Puig

C - Júri da crítica:
1 - Melhor filme (ficção): "Febre do Rato"
2 - Melhor documentário: "Uma Longa Viagem", de Lúcia Murat.

4 de julho de 2011

ANNA MASSEY (1937-2011), atriz

A atriz britânica Anna Massey morreu de câncer no dia 3 de julho, aos 73 anos.
Ela estreou no cinema em "Um Crime por Dia" (Gideon's Day, 1958), dirigido por seu padrinho John Ford.
Entre seus filmes mais importantes estão "A Tortura do Medo" (Peeping Tom, 1960), "Frenesi" (Frenzy, 1972), "Um Pequeno Romance" (A Little Romance, 1979), "Montanhas da Lua" (Mountains of the Moon, 1990) e "O Operário" (The Machinist, 2004).
Anna Raymond Massey nasceu em 11 de agosto de 1937, em West Sussex, Inglaterra. Em 2005 ela recebeu da rainha Elizabeth II o título de Comandante da Ordem do Império Britânico. Era filha dos atores Raymond Massey e Adrienne Allen, irmã do ator Daniel Massey (1933-1998) e mãe do escritor David Huggins.

3 de julho de 2011

O Brasil visto por Hollywood

Tradicionalmente, as relações entre o Brasil e Hollywood não ficam bem na fita. Os projetos de filmes com locações aqui muitas vezes falharam. Em 1942, Orson Welles veio filmar seu ambicioso documentário “It’s All True”, que deu em nada.

As filmagens de “The Americano” (1955), no Mato Grosso, tiveram de ser suspensas por falta de dinheiro. A equipe foi repatriada e concluiu por lá mesmo o filme, até hoje inédito no Brasil, felizmente.

Em 1956, o diretor Samuel Fuller visitou o Mato Grosso em busca de locações para o filme “Tigrero”, cujo elenco seria encabeçado por John Wayne. A produção não se viabilizou devido ao alto custo de um seguro de vida para o ator.

Mais recentemente, filmaram aqui enredos situados em fictas republiquetas sul-americanas. É o caso de “Luar sobre Parador” (Moon Over Parador, 1988), de Paul Mazursky, e “Os Mercenários” (The Expendables, 2010), de Sylvester Stallone. Mas para enredo situado aqui, filmagem no México; caso de “Amazônia em Chamas” (The Burning Season, 1994), telefilme sobre Chico Mendes.

Hoje, parece que a situação está mudando. O Rio de Janeiro acaba de fornecer o cenário para “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio” (Fast Five, 2011) e o desenho animado “Rio” (Idem, 2011), dirigido pelo carioca Carlos Saldanha e que é sucesso em todo o mundo.

Nos filmes de Hollywood, a imagem do Brasil tem sido a de esconderijo de criminosos. Por exemplo, em “Acorrentados” (The Defiant Ones, 1958), Tony Curtis e Sidney Poitier são dois prisioneiros que fogem acorrentados um ao outro. Numa cena em que Curtis tenta partir a corrente com uma pedra, ele fala de suas aspirações e conclui: “Irei para o Rio e nunca serei encontrado. Nunca serei encontrado”.

No clássico “Bonequinha de Luxo” (Breakfast at Tiffany's, 1961) acontece algo ainda mais curioso. Em Nova York, o brasileiro José da Silva Pereira, com o cabelo empastado ao estilo “latin lover”, vai a uma festa no apartamento da garota de programa Holly Golightly, cujos convidados não são o que aparentam.

Interpretado pelo espanhol José Luis de Villalonga, José é um tipo desconfiado, sempre pronto para escapar. Ao ver Paul Varjak atender ao telefone, ele logo quer saber do que se trata: é o vizinho que reclama do barulho e ameaça chamar a polícia. Só de ouvir a palavra “polícia” José já quer cair fora. E, assim que a polícia chega, ele e Varjak vazam pela escada de incêndio.

Embora só apareça em duas cenas, José tem participação importante na trama, porque Holly, à caça de um marido rico, topa vir para o Brasil com ele. Numa das cenas, José e Holly portam cada qual uma bandarilha, aquele espeto que se usa nas touradas.

Disposta a casar com um brasileiro, Holly resolve aprender português. Numa visita, Varjak a encontra ouvindo uma aula gravada e pergunta que língua é aquela. Ela diz que é o português, “uma língua muito complicada, que tem quatro mil verbos irregulares”. A voz da gravação tem o inconfundível sotaque de... Portugal.

Por Holly se envolver em escândalo que vai parar nas manchetes, José decide terminar o romance por meio de um telegrama. Após ler a mensagem de José, Varjak diz a Holly que nunca acreditou que ela “tivesse inclinação para ser a rainha dos pampas”.

Como se vê, o filme faz uma confusão dos diabos com a imagem do Brasil, enfiando no mesmo balaio Espanha, México, Portugal, Argentina. E mais. Pode-se intuir que Holly está tão desesperada por um marido rico que aceita casar até com um pilantra brasileiro. E se José vive correndo da polícia, sua alegação no telegrama de que está agindo em defesa do seu nome e da sua família soa como pura ironia – potencializada pela fala de Holly de que será a mulher do futuro presidente do Brasil.

Na comédia “Primavera para Hitler” (The Producers, 1968) há outro exemplo. Um produtor da Broadway está na pindaíba porque há tempos não consegue emplacar um sucesso. Seu guarda-livros sugere-lhe tomar emprestado um milhão de dólares e aplicar só 60 mil na montagem de uma peça, para embolsar a diferença. O produtor agarra-se com ele e, eufórico, se põe a dançar e a tagarelar sobre o golpe. Por fim, diz: “Com nosso milhão, nós voamos para o Rio de Janeiro”. Até quando vamos dar motivos para Hollywood queimar o nosso filme!