Tropas de Elite 2
Até aqui, a equipe que produziu "Tropa de Elite 2" conseguiu driblar a pirataria, levando o filme a atingir um público excepcional. O prejuízo que os piratas deram a "Tropa 1" está sendo compensado pela corrida de agora aos cinemas.
Consegui ver "Tropa 2" na semana seguinte à estreia porque escolhi um horário costumeiramente pouco concorrido (14 horas) e cheguei ao cinema 1 hora antes do início da sessão. Mas nunca vi, nesse horário, cinema nenhum tão completamente cheio como estava aquela sala do Boulevard Shopping. E nem era feriado!
O público me pareceu seduzido mas não encantado. Ninguém se manifestou, exceto pelo riso esparso, ao longo de todo o filme. Quando acontece o sobrevoo de Brasília (na esplanada dos ministérios), que pretende ligar a corrupção localizada no Rio de Janeiro ao plano federal, não se ouviu a mínima manifestação, seja favorável seja contrária. Pareceu-me até que o sentimento geral era de constrangimento. Afinal, depois do ainda recente escândalo de dinheiro na meia e na cueca, fica sempre a dúvida se não haverá outra onda de ataques à Capital Federal e seus habitantes, que, diga-se de passagem, nada têm a ver com isso.
Em vários sentidos, "Tropa 2" vai muito além do que se viu em "Tropa 1". É mais bem-feito inclusive, contando em sua equipe técnica com boa meia-dúzia de profissionais que atuam no cinema americano. Além de mirar a crítica em figuras de nível sócio-político mais elevado, o enredo conta uma história mais complexa, mostrando, entre o bem e o mal, faixas intermediárias, cinzentas, não mais apenas os extremos.
O roteiro também foi melhor concebido. Fica evidente que se buscou inspiração no bom cinema internacional, sendo muito clara a influência dos filmes de Martin Scorsese. E os atores, por sua vez, fazem um trabalho primoroso.
Em boa hora, parece que ficou para trás o tempo em que se procurava transformar as limitações técnicas do cinema brasileiro em qualidade, num claro esforço de vender gato por lebre. Devo dizer, no entanto, que achei excessiva a narração "over" do coronel Nascimento. Embora útil às vezes (faz parte da estética do filme "noir", por exemplo), a narração cai melhor quando usada com certa parcimônia.
Mesmo não tendo penetrado com maior profundidade nas complexas questões que aborda, o filme tem o mérito de trazer à discussão os problemas que envolvem a segurança pública no País, assunto que ainda não recebeu dos governantes o enfrentamento empenhado e consequente que a população requer.
Para terminar, quero dizer que gostei mais de "Tropa 2" que de "Tropa 1", embora o primeiro fosse muito mais divertido -- especialmente para quem não embarcou no clima de justiça-com-as-prórpias-mãos.
Um comentário:
Ao que me consta, a pirataria beneficiou imensamente o primeiro filme. Onde estaria esse prejuizo?
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