28 de janeiro de 2007

Sessão nostalgia: Os nibelungos

No último sábado, 27, o poeta Salomão Sousa e dona Francisca receberam amigos para assistir, em seu home theater, a dois filmes alemães de Fritz Lang: Os nibelungos: A morte de Siegfried (1924) e Os nibelungos: A vingança de Kriemhild (1924), nas versões originais e restauradas. Uma sessão com filmes de mais de 80 anos evoca o nascimento da sétima arte, recobrindo-se de ineludível nostalgia.

Enfrentaram a maratona cinematográfica de quase cinco horas o poeta João Carlos Taveira, o fotógrafo e poeta Robson Corrêa de Araújo, com sua respectiva campeã de ciclismo Maria José, o homem de sete instrumentos Erinaldo e, claro, este velho cinéfilo.
O fato de os filmes serem mudos, sonorizados apenas por eficiente trilha musical, permitiu que cada espectador fizesse observações no instante em que a cena se desenrolava. E havia muito a comentar, dada a excelência das obras, dignas da mais desbragada adjetivação.
A lenda que inspirou Os nibelungos é pródiga de aventuras e dramas humanos. A trajetória de Siegfried tem início quando ele recebe ensinamentos para forjar uma espada incomum. Com ela, ele conseguirá matar o dragão que se interpõe no seu caminho rumo ao reino de Worms, onde vive a adorável Kriemhild. Subseqüentemente, ele derrota um feiticeiro e se apossa de um elmo que lhe permite ficar invisível, o que lhe será de grande valia na tarefa que terá de cumprir para conquistar a mão de Kriemhild. Depois desenrolam-se as conseqüências de equívocos cometidos por ele ou por aqueles que o cercam na corte, que culminam com a sua morte. Na segunda parte, seguem-se as artimanhas da viúva para vingar a morte do marido, numa série de expedientes a que ela recorre para cumprir seu objetivo exclusivo, que a obceca e consome o restante de sua vida. Tudo é apresentado numa seqüência de cantos que um menestrel narra enquanto tange seu alaúde.
O visual dos filmes é de uma riqueza impressionante: a fotografia, primorosa, explora os extremos constrastes, como era usual na escola expressionista, e recorre a enquadramentos rigorosamente estudados; o desempenho dos atores é precioso, dentro do estilo da época; os figurinos e a cenografia são deslumbrantes; e o grafismo das estampas de cortinas, indumentárias, escudos e objetos de cena fascina por sua variedade, que parece inesgotável.
O clima reinante ao longo da sessão era de sincera admiração pela magnificência da mise-en-scène e dos roteiros, estes a cargo da então mulher de Lang, Thea von Harbou, que contou com a colaboração do marido no do primeiro filme. Se alguém tinha alguma dúvida a respeito da genialidade de Fritz Lang, ela foi dissipada de uma vez por todas.
(A imagem é do filme A morte de Siegfried. Crédito da foto: daily.greencine.com)