9 de março de 2018

O Filme 'O Rio das Almas Perdidas' Dignifica a Mulher


No Dia Internacional da Mulher, vi um filme antigo que a dignifica. Trata-se de "O Rio das Almas Perdidas" (River of No Return, 1954), faroeste com Robert Mitchum e Marilyn Monroe. Eu não podia deixar de atentar para dois aspectos da visão hollywoodiana sobre o papel da mulher: a relação homem/mulher e a participação dela no andamento da história. Marilyn é uma cantorazinha de saloon que sabe que não tem muito valor. Mitchum é um fazendeiro viúvo e recém-saído da prisão, condenado por ter cometido assassinato para defender um amigo. Pelas circunstâncias em que se encontram, eles são obrigados a fugir numa jangada, navegando em rio cheio de corredeiras, conhecido como um rio sem possibilidade de retorno. Com ambos, segue o filho pequeno de Mitchum.
Os riscos que enfrentam na navegação os obrigam a se ajudarem mutuamente. A carga de esforço físico, a falta de comida e o frio, somados ao estresse da situação, fazem com que Marilyn tenha um colapso - admissível para uma mulher que nunca passara por dificuldades similares. O colapso dela serve também de pretexto para a aproximação física dos dois, já que, para reanimá-la, ele faz uma vigorosa massagem corporal nela. A partir da massagem, ela começa a depositar olhares lânguidos sobre ele, o que ameniza a cena de conteúdo machista que logo virá. Diante de um diálogo em que ela o provoca com malícia, ele tenta beijá-la à força, ela reage e eles têm uma luta sensual, rolando pelo chão, até que ele a subjuga e ela aceita ser beijada.
Na sequência, Marilyn se fortalece e nada fica a dever a Mitchum na condução da jangada pelas águas revoltas. Num momento em que Mitchum cai na água, ela assume o leme da jangada, realizando as manobras com vigor e habilidade, e todos se salvam no final. E a mulher é resgatada pelo amor, formando uma família com o companheiro de aventura.
É reconfortante notar que, em um filme de mais de 60 anos, Hollywood tratou a mulher como capaz de agir em pé de igualdade com o homem. Mas isto não acontecia em todos os filmes. Em filmes de aventura, muitas vezes, a mulher servia de atrapalho para as ações do herói, que tinha de se livrar dos perigos e ainda salvar a mulher. Uma maneira óbvia de explorar a fragilidade feminina para criar suspense, coisa que perdurou ainda por um bom tempo no cinema.
Por volta de 1970, em Piracanjuba, Goiás, ao sair do cinema após ver um filme em que a mocinha só atrapalhou as ações do mocinho, ouvi alguém fazer um comentário machista que me envergonha até hoje. Vou tentar reproduzi-lo com as palavras que ouvi: "Trem que põe mulher no meio não presta. Bom é pôr no meio da mulher". Nenhuma mulher merece tamanha grosseria.

(Foto: Google Imagens.)