15 de fevereiro de 2019

'No Portal da Eternidade' Me Causou Desconforto

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Para quem começou a frequentar o cinema há 60 anos, como eu, não é fácil aceitar o cardápio que a indústria do cinema oferece atualmente. Por exemplo, "No Portal da Eternidade" (At Eternity's Gate, 2018), de Julian Schnabel, é sobre o pintor holandês Van Gogh, autor de pinturas maravilhosas, retratos reveladores de um olhar e espírito aguçados, focados na natureza, ainda que não apenas nela. O que esperar de um filme sobre Van Gogh e sua obra? Eu esperava uma fotografia impecável, requintada, que faça justiça ao olhar privilegiado do artista. Não foi o que encontrei, infelizmente.
O público que sustenta o cinema é composto, em sua maioria, pelos jovens. Suponho que os jovens de hoje em dia vêm filmes no smartphone ou no Youtube, e não estão nem aí para imagens requintadas. O meu conceito de fotografia cinematográfica, desenvolvida e aperfeiçoada há mais de 100 anos, é de enquadramentos perfeitos, iluminação sofisticada, movimentos de câmera sóbrios na maior parte do filme.
Pois bem. Pelo que ando vendo no cinema, tudo isso acabou. No caso de "No Portal da Eternidade", achei a fotografia "prejudicada" das mais diversas formas. Raramente o enquadramento mostra algo belo aos meus olhos. A iluminação nem sempre mostra com clareza espaços, pessoas, objetos. Isto, quando não é propositadamente poluída por flair (reflexo do sol na lente) e por mais sabe-se lá que processos de interferência nos enquadramentos.
A câmera trepida quase o tempo todo, a ponto de me causar desconforto visual. Em vez da beleza visual associada à obras do pintor, há uma confusão perturbadora e generalizada, talvez para transmitir ao espectador a confusão mental em que vivia Van Gogh. Pode soar genial aos olhos do público atual? Talvez sim, que sei eu? Mas é o tipo de filme que eu jamais vou querer ver outra vez.

(Foto: Google Imagens/movies.uk.com)

'Nasce uma Estrela' É a Melhor Versão da História

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O novo "Nasce uma Estrela" (A Star Is Born, 2018), de Bradley Cooper, é a quarta e melhor versão da mesma história. Nos dois primeiros filmes, de 1937 e 1954, a história se passava no ambiente do cinema, entre um ator e uma atriz. O terceiro filme, de 1976, fez a transição para o mundo da música, o mesmo retratado no filme de que estou falando.
Em relação ao que mostram os demais filmes indicados ao Oscar, em sua quase totalidade, "Nasce uma Estrela" é um filme surpreendente. Não aborda nenhum dos temas que fazem sucesso atualmente: relacionamento homoafetivo, racismo ou marido canalha que impede o empoderamento da sua mulher. E é capaz de emocionar o espectador, levando-o ora ao riso, ora às lágrimas.
Bradley Cooper faz um músico roqueiro no ápice do sucesso, mas que começa a ter problemas de audição e, talvez por isso, de alcoolismo. Ele conhece uma jovem cantora, Lady Gaga, se encanta com sua estampa e voz, e resolve dar uma força à carreira dela. Após se casarem, ela dispara a fazer sucesso, enquanto a carreira dele entra em declínio. Mas não de modo a complicar muito a vida conjugal deles.
O problema maior entre os dois decorre da canalhice de um sujeitinho que produz os shows dela. O sujeitinho afasta o marido, impedindo-o de continuar participando como conselheiro dela, e introduz ingredientes cafonas nos shows da cantora. Ele não se preocupa com a qualidade do show, só quer aumentar a arrecadação para ganhar mais dinheiro. Por fim, o inescrupuloso sujeitinho provoca um estrago monumental na vida do casal.
Para o meu gosto, "Nasce uma Estrela" é um filme excepcional em todos os quesitos. E ainda conta com o cachorro de Bradley Cooper, que tem um papel dos mais comoventes no filme. Mas, não sendo o tipo de filme que o público de hoje quer ver, não deve ganhar nenhum prêmio no Oscar, exceto o de melhor canção por "Shallow", que vem papando todos os prêmios.

(Foto: Bradley Cooper e Lady Gaga - Google Imagens/leouve.com.br)