1 de agosto de 2009

Dez filmes subestimados: 9 - A Primeira Noite de Tranquilidade

Aqui está mais um comentário do texto sobre dez filmes subestimados, publicado integralmente pelo Jornal Opção de 10 a 16 de maio de 2009 e pelo saite Revista Bula:


9 - A Primeira Noite de Tranquilidade (La prima notte di quiete, 1972), de Valerio Zurlini – O melhor momento, talvez, do existencialismo no cinema. Alain Delon encarna um homem maduro destituído de vínculos e obcecado pela pureza desde a morte de seu amor da juventude. A ligação que lhe resta é uma amante pela qual já perdeu o interesse.

À deriva, desleixado, ele arranja trabalho temporário como professor de literatura, numa cidade litorânea, e se apaixona por uma aluna. Na bela jovem ele vê representado o seu ideal de pureza.

Seu escape se frustra, porém, quando vem à tona a verdade de cada um. A aluna, que ele disputa com um companheiro de jogatina, é filha da corrupção, com muito passado, pouco presente e nenhum futuro.

A decisão desesperada de largar tudo para salvar-se do tédio esbarra no seu último vestígio de humanidade, quando se preocupa com o destino da amante. O tênue fio que os une se transforma no liame que o conduzirá à perdição.

Zurlini, que tinha alma de poeta, sabia retratar personagens existencialmente vazias sem chatear o espectador – o filme é puro encantamento. Pena que foi eclipsado em seu tempo por Visconti, Fellini, Antonioni e “tutti quanti”.