30 de abril de 2010

Recesso no blog

O scriptwriter desde blog resolveu tirar férias. Vai passar algumas semanas além fronteiras para dar uma arejada nas ideias. Até breve!

'Invictus' - uma jogada de mestre

A África do Sul, em 1994, quando Nelson Mandela foi eleito presidente, era um país dividido, com duas bandeiras e dois hinos nacionais. De um lado, os africânderes, minoria branca responsável por décadas de regime segregacionista, o apartheid; de outro, a população negra despossuída e à qual se negavam direitos elementares de cidadania.

Mesmo tendo amargado 27 anos de cárcere, Mandela descartou o revanchismo em favor da reconciliação nacional. E arquitetou uma jogada de mestre: usar a Copa do Mundo de Rúgbi de 1995, cujo país-sede seria a própria África do Sul, para promover a pacificação entre negros e brancos e consolidar a multirracialidade no país.

O filme Invictus (2009), de Clint Eastwood, dramatiza as etapas mais emocionantes dessa história, da posse de Mandela na presidência ao término da Copa, com ênfase no time de rúgbi mais importante do país, o Springbok, com apenas um jogador negro.

Num preâmbulo, quatro anos antes da eleição de Mandela, o filme apresenta a seguinte situação: Isolados por uma sólida cerca de ferro, atletas brancos e robustos treinam o rúgbi com seu uniforme vistoso; do outro lado da rua, detrás de uma tela frágil, garotos negros mal nutridos correm atrás de uma bola de futebol. De repente passa entre os dois grupos o cortejo de carros que conduz Mandela para a liberdade. Os garotos correm para saudá-lo aos gritos, enquanto os atletas brancos remoem seus temores em silêncio.

O filme se abre, portanto, com uma interrogação acerca da ação vindoura de Mandela: Contribuir para derrubar a cerca que separa os brancos dos negros, ou aumentar o afastamento entre eles? Os dois lados nada têm em comum, nem ao menos o interesse pelo mesmo esporte. Uma vez eleito, porém, Mandela olhará para o futuro a fim de virar a página do apartheid.

O primeiro embate racial ocorre quando ele compõe a sua guarda pessoal, misturando negros e brancos. Forçados a atuarem em conjunto, os dois grupos seguem como água e óleo, separados pela desconfiança recíproca. O que se vê nesse microcosmo repete-se no país inteiro.

Por ser o rúgbi um esporte dos africânderes, os negros não se interessam por ele e, por conseguinte, desconhecem suas regras. Mandela cria o programa “Um time, um país” para que os atletas ensinem os estudantes das favelas a praticá-lo. Os atletas reagem negativamente a princípio, mas acabam fazendo sua parte para atrair os jovens. E o rúgbi começa a promover a coesão social, a cimentar a nova nação idealizada por Mandela.

Na Copa, porém, o sucesso do time sul-africano é mais que duvidoso. Mandela, com seu histórico de perseverança e superação nos longos anos de prisão, inspirado por um ideal e um poema, recusa-se a dar a guerra por perdida antes da batalha e faz o que pode para que o Springbok seja o campeão.

Para motivar ainda mais o capitão do time, Mandela dá-lhe uma cópia do poema Invictus, que lhe serviu de inspiração nos tempos de cárcere. Escrito pelo inglês William Ernest Henley, o poema tem um fecho poderoso: “Sou o senhor do meu destino, o comandante da minha alma”.

Eastwood aproveita-se do clima de instabilidade política para criar dois momentos de grande suspense, com reversão de expectativa. No primeiro caso, quando Mandela faz sua caminhada matinal por ruas desertas, a alternância de planos que o mostram andando com os guarda-costas e de planos de um carro em movimento, sobre o qual não se tem a mínima informação, sugere a possibilidade de atentado terrorista.

No segundo caso, um homem branco surge do nada para estudar o estádio da partida final, ora examinando-o de dentro, ora espreitando-o a distância com binóculo. Na hora do jogo, um avião se aproxima perigosamente do estádio, e o homem reaparece dentro dele como piloto. O assombro que domina o estádio e agita os seguranças de Mandela produz arrepios no espectador.

Há momentos no filme que são quase mágicos, como as cenas em que se dá a interação entre brancos e negros, tornando viável o plano de Mandela. Em tais momentos, entra a música sul-africana, com sua alegria e ritmo contagiante – e a emoção dispara. Esse é, aliás, o filme mais emocionante de Clint Eastwood, que nunca apela para truques baratos ou melodramáticos. E tudo conduz para o grande clímax, quando os torcedores vibram na mesma intensidade, independentemente da cor da pele.


Aos mais vividos é quase impossível ver Invictus sem se lembrar de algum filme de John Ford. Como Audazes e Malditos, por exemplo, no qual um sargento negro da cavalaria, acusado por crimes que não cometeu, tem suas qualidades morais destacadas em cenas revividas por testemunhos no tribunal. Ford, como poucos, sabia injetar emoção nos momentos certos e sem apelação.

Histórias edificantes, como a de Invictus, eram uma das especialidades de John Ford. Pode-se até imaginar Eastwood se perguntando, ao ler o roteiro: Como Mr. Ford, se vivo estivesse, faria este filme? Embora discípulo confesso de Sergio Leone e Don Siegel, aos quais dedicou Os Imperdoáveis, a influência de Ford sobre ele é mais que natural, até porque o seu filme predileto é uma obra-prima do gigante irlandês, Como Era Verde Meu Vale.

Renovador da principal corrente do cinema norte-americano, Clint Eastwood conquistou admiração e respeito mundo afora. É preciso reconhecer: ele é quase tão bom quanto John Ford.

(Foto: http://www.cinemaeafins.com/)
(Texto publicado pelo semanário Jornal Opção, edição de 21 a 27 de fevereiro de 2010, e pelo saite Revista Bula.)

Era uma vez em 25 de abril de 2010

DOROTHY PROVINE (75 anos, de enfisema pulmonar), atriz norte-americana que atuou em apenas uma dúzia de filmes, em pouco mais de dez anos de carreira, mas deixou sua marca de comediante em três filmes memoráveis: Deu a Louca no Mundo (It's a Mad Mad Mad Mad World, 1963), como a mulher de Milton Berle, Um Amor de Vizinho (Good Neighbor Sam, 1964), como a mulher de Jack Lemmon, e A Corrida do Século (The Great Race, 1965), como a cantora Lily Olay. Estava aposentada desde 1969, após se casar com o diretor Robert Day, agora viúvo, com quem teve um filho. Nasceu Michele Dorothy Provine em 20 de janeiro de 1935, em Deadwood, Dakota do Sul.
(Foto: http://www.connect.in.com/)

28 de abril de 2010

Era uma vez em 28 de abril de 2010

FURIO SCARPELLI (90 anos, de insuficiência cardíaca), roteirista italiano que se manteve em atividade durante meio século; participou da fase áurea da comédia italiana, a partir dos anos 1950, escrevendo para diretores do porte de Mario Monicelli, Os Eternos Desconhecidos (I soliti ignoti, 1958), O Incrível Exército de Brancaleone (L'armata Brancaleone, 1966); Alberto Lattuada, O Mafioso (Mafioso, 1962); Pietro Germi, Seduzida e Abandonada (Sedotta e abbandonata, 1964); Sergio Leone, Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo, 1966); Dino Risi, Este Crime Chamado Justiça (In nome del popolo italiano, 1971); Ettore Scola, Nós Que Nos Amávamos Tanto (C'eravamo tanto amati, 1974), O Baile (Le bal, 1983). Nasceu em 16 de dezembro de 1919, em Roma. Deixou viúva e dois filhos.

22 de abril de 2010

Vera Cruz de volta com filme sobre seu passado glorioso

Afinal, uma boa notícia para o cinema brasileiro. A Companhia Cinematográfica Vera Cruz, que não produzia filmes há 33 anos, anunciou seu retorno às atividades. O filme LB Persona contará a história da produção daquela que foi a obra mais importante da Vera Cruz, O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto.

LB Persona vai combinar linguagem documental com imagens ficcionais, e será dirigido por Galileu Garcia, que foi assistente de direção de LB em O Cangaceiro. E LB será vivido pelo ator Milton Levy.
Além de ganhar vários prêmios internacionais, O Cangaceiro ainda mantém a glória de ser o filme brasileiro mais visto fora do Brasil em todos os tempos.
O último filme realizado nos estúdios da Vera Cruz, que ficam em São Bernardo do Campo (SP), foi Paixão e Sombras (1977), de Walter Hugo Khouri.

20 de abril de 2010

Era uma vez em 17 de abril de 2010

DEDE ALLEN (86 anos, de derrame cerebral), montadora norte-americana, considerada uma das mais criativas de Hollywood; seu talento está evidenciado em filmes como Marcado pela Sarjeta (The Hustler, 1961), Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas (Bonnie and Clyde, 1967), Serpico (Serpico, 1973), Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975), que lhe valeu o prêmio BAFTA de melhor montagem, Duelo de Gigantes (The Missouri Breaks, 1976), Reds (Reds, 1981) e Garotos Incríveis (Wonder Boys, 2000). Recebeu vários prêmios pela carreira, inclusive o do sindicato de montadores de Hollywood.


Dados biográficos: Dorothea Corothers Allen nasceu em 3 de dezembro de 1923, em Cleveland, Ohio. Era mãe do mixador de som Tom Fleishman, frequentemente creditado nos filmes de Martin Scorsese.

18 de abril de 2010

Os vencedores do Festival 'É Tudo Verdade'

O Festival Internacional de Documentários 'É Tudo Verdade' encerrou-se no último sábado, 17. Na opinião de Amir Labaki, diretor e fundador do festival, a premiação distinguiu cineastas renomados e uma nova geração.
Foram apresentados 72 documentários, selecionados entre mais de 1000 inscritos, e 32 participaram das mostras competitivas.
Os premiados são:


a) Competição internacional:
1 - Melhor filme de longa ou média-metragem: La Danse - O Balé da Ópera de Paris (La danse - Le ballet de l'Opéra de Paris, França/EUA, 2009), de Frederick Wiseman, e O Homem Mais Perigoso da América: Daniel Ellsberg e os Documentos do Pentágono (The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers, EUA, 2009), de Rick Goldsmith e Judith Ehrlich
2 - Melhor filme de curta-metragem: A Escuridão do Dia (The Darkness of Day, EUA, 2009), de Jay Rosenblatt
3 - Menção honrosa: Notas sobre o Outro (Apuntes sobre el otro, Espanha, 2009), de Sérgio Oksman.


b) Competição nacional:
1 - Melhor filme de longa ou média-metragem: Terra Deu, Terra Come (MG, 2010), de Rodrigo Siqueira
2 - Melhor filme de curta-metragem: Querida Mãe (SP, 2010), de Patrícia Cornils
3 - Menção honrosa: Karl Max Way (SP, 2010), de Flávia Guerra e Maurício Osaki.

15 de abril de 2010

Cannes 2010: a lista dos filmes indicados

A 63ª edição do Festival de Cannes, que acontece de 12 a 23 de maio, será aberta com a exibição de Robin Hood (2010), de Ridley Scott. Do Brasil, a presença do diretor Carlos Diegues no júri da mostra Cinéfondation, para curtas-metragens de novos diretores, e a exibição de 5 Vezes Favela - Agora por Nós Mesmos (2010), cuja produção foi por ele coordenada, fora de competição. O júri do festival será presidido pelo cineasta norte-americano Tim Burton.
A seguir, a lista dos filmes em competição:
1 - Another Year (Reino Unido, 2010), de Mike Leigh
2 - Biutiful (EUA, 2010), de Alejandro González Iñárritu
3 - O Sol Engnador 2 (Utomlyonnye solntsem 2, Alemanha/França/Rússia, 2010), de Nikita Mikhalkov
4 - Cópia Fiel (Copie conforme, França/ Itália/Irã, 2009), de Abbas Kiarostami
5 - Fair Game (EUA, 2010), de Doug Liman
6 - Fora da Lei (Hors-la-loi, França/Argélia/Bélgica, 2010), de Rachid Bouchareb
7 - The Housemaid (Coreia do Sul, 2010), de Im Sang-soo
8 - La nostra vita (Itália/França, 2010), de Daniele Luchetti
9 - A Princesa de Montpensier (La princesse de Montpensier, França/Alemanha, 2010), de Bertrand Tavernier
10 - Dos Homens e dos Deuses (Des hommes et des dieux, França, 2010), de Xavier Beauvois
11 - Ultraje (Autoreiji, Japão, 2010), de Takeshi Kitano
12 - Poesia (Shi, Coreia do Sul, 2010), de Lee Chang-dong
13 - Um Homem que Grita (Un homme qui crie, França/Bélgica/Chade, 2010), de Mahamat-Saleh Haroun
14 - Tournée (França, 2010), de Mathieu Amalric
15 - Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas (Loong Boonmee raleuk chat, Espanha/Tailândia/Alemanha/Reino Unido/França, 2010), de Apichatpong Weerasethakul
16 - Minha Felicidade (My Joy, Alemanha/Ucrânia/ Holanda, 2010), de Sergey Loznitsa
17 - Projeto Frankenstein (Szelíd teremtés - A Frankenstein-terv, Hungria, 2010), de Kornél Mundruczó
18 - Chongqing Blues (Rizhao Chongqing, China, 2010), de Wang Xiaoshuai.

13 de abril de 2010

Era uma vez em 12 de abril de 2010

WERNER SCHROETER (65 anos, de câncer), diretor, roteirista, cinegrafista, montador e ator alemão; um dos cineastas do chamado "novo cinema alemão" mais incensados pela crítica; realizou cerca de 20 longas-metragens, parte dos quais são documentários; ganhou prêmios em vários festivais, inclusive na Mostra Internacional de São Paulo com o filme Conselho de Amor (Liebeskonzil, 1982); sua filmografia, no entanto, permanece desconhecida do mercado cinematográfico brasileiro; talvez seja um daqueles artistas que os críticos adoram mas o grande público não compreende. Nasceu em 7 de abril de 1945, em Georgenthal, Alemanha.

8 de abril de 2010

Era uma vez em 7 de abril de 2010

CHRISTOPHER CAZENOVE (64 anos, de septicemia), ator britânico mais conhecido por seu trabalho na TV; atuou em mais de 20 filmes, mas poucos serão lembrados, como O Buraco da Agulha (Eye of the Needle, 1981), Verão Vermelho (Heat and Dust, 1983) e Coração de Cavaleiro (A Knight's Tale, 2001). Nasceu Christopher de Lerisson Cazenove em 17 de dezembro de 1945, em Winchester, Inglaterra. Era divorciado e tinha um filho.
(Foto: http://www.dailypostal.com/)

6 de abril de 2010

Era uma vez em 6 de abril de 2010

CORIN REDGRAVE (70 anos, de causa não divulgada), ator britânico pertencente a uma família de atores, mas, sem o talento de seus parentes mais notáveis, ficou restrito a papéis secundários; dentre seus mais de 30 filmes, destacam-se O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (A Man for All Seasons, 1966), Excalibur (Excalibur, 1981), Quatro Casamentos e Um Funeral (Four Weddings and a Funeral, 1994) e Persuasão (Persuasion, 1995).


Dados biográficos: Corin Redgrave nasceu em 16 de julho de 1939, em Londres. Era filho de Sir Michael Redgrave (1908-1985), ator; irmão de Vanessa Redgrave e Lynn Redgrave, atrizes; e pai de Jemma Redgrave, atriz, e de Luke Redgrave, cinegrafista. Adquiriu maior notoriedade como ativista político de esquerda.

3 de abril de 2010

Era uma vez em 3 de abril de 2010

BUZA FERRAZ (59 anos, de parada cardíaca), ator brasileiro da TV que atuou em alguns filmes, entre os quais Patriamada (1984), que lhe valeu o prêmio de melhor ator coadjuvante da Associação de Críticos de Arte de São Paulo, Brava Gente Brasileira (2000) e Elvis & Madona (2008); coescreveu e codirigiu For All - O Trampolim da Vitória (1997), que ganhou três importantes prêmios no Festival de Gramado, inclusive o de melhor filme na escolha do público.


Dados biográficos: Alberto Paulo Ferraz nasceu em 1º de maio de 1950, no Rio de Janeiro. Deixou cinco filhos de dois casamentos que terminaram em divórcio.

2 de abril de 2010

Era uma vez em 1º de abril de 2010

JOHN FORSYTHE (92 anos, de pneumonia), ator norte-americano que estreou no cinema no início dos anos 1940 e atuou em 20 filmes, entre os quais A Fera de Forte Bravo (Escape from Fort Bravo, 1953), O Terceiro Tiro (The Trouble with Harry, 1955), Madame X (Madame X, 1966), À Sangue Frio (In Cold Blood, 1967), Topázio (Topaz, 1969) e Justiça para Todos (...And Justice for All., 1979). Ganhou vários prêmios e uma estrela na Calçada da Fama, por seu trabalho na TV.


Dados biográficos: John Lincoln Freund nasceu em 29 de janeiro de 1918, em Penn's Grove, Nova Jérsei. Quando jovem, trabalhou de garçon em restaurante no qual Kirk Douglas tinha a mesma função. Foi casado com a atriz Parker McCormick (1918-1980), com quem teve um filho. Do casamento com a atriz Julie Warren (1919-1994), que terminou com a morte dela, teve duas filhas, as atrizes Page Forsythe e Brooke Forsythe. Deixou viúva a mulher do terceiro casamento.