Faroeste com reflexão
O filme Os profissionais (1966), de Richard Brooks, além de ser um excelente faroeste, oferece momentos de reflexão. Um diálogo em especial encanta os filósofos. É travado por Jesus Raza (Jack Palance), que quer recuperar a mulher, Maria (Claudia Cardinale), e Bill Dolworth (Burt Lancaster), que tem o compromisso de impedi-lo, custe o que custar, bloqueando sua passagem. Ambos estão protegidos dos tiros do outro, mas próximos o bastante para que possam ouvir o que o outro fala.
Raza: Você sabe, claro, que um de nós deve morrer.
Dolworth: Talvez nós dois.
Raza: Morrer por dinheiro é tolice.
Dolworth: Morrer por uma mulher é mais tolice ainda. Qualquer mulher. Até ela.
Raza: Por quanto tempo você pensa que vai nos deter aqui?
Dolworth: Algumas horas. Depois, o que acontecer aqui não importa. Ela será a Sra. Joe Grant novamente.
Raza: Mas isso não mudará nada. Ela é minha mulher. Antes. Agora. Sempre.
Dolworth: Nada é para sempre. A não ser a morte. Pergunte a Fierro. Pergunte a Francisco. Pergunte àqueles no cemitério dos anônimos. (Fierro e Francisco eram companheiros de Raza, que Dolworth acabara de matar.)
Raza: Eles morreram por algo em que acreditavam.
Dolworth: A revolução? Quando os tiros cessam, os mortos são enterrados e os políticos assumem, tudo acaba sendo uma coisa só: uma causa perdida.
Raza: Então? Você quer a perfeição ou nada. É muito romântico, compadre. A Revolução é como um grande caso de amor. No começo ela é uma deusa, uma causa sagrada. Mas todo caso de amor tem um inimigo terrível.
Dolworth: O tempo.
Raza: Nós a vemos como ela é. A Revolução não é uma deusa, mas uma prostituta. Ela nunca foi pura nem santa nem perfeita. Então, fugimos. Encontramos outra amante, outra causa. Casos rápidos, sórdidos. Luxúria, mas não amor. Paixão, mas não compaixão. Sem amor, sem uma causa, não somos nada. (Pausa.) Continuamos porque acreditamos. Partimos porque estamos desiludidos. Voltamos porque estamos perdidos. Morremos porque estamos engajados.
Comentário: É mesmo um belo filme, com grandes momentos. Esse diálogo, reproduzido assim, não faz justiça ao filme em si. Bom mesmo é ver os dois grandes atores dizendo as falas, a situação tensa em que se encontram, num desfiladeiro em pleno deserto, e a astúcia de cada um para cumprir seu objetivo. Não é todo dia que se pode ver um filme como esse.
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