Assim pensava Paulo Francis
Fui ver "Empire of the Sun", Império do Sol, "de" Steven Spielberg. Li o livro de J. G. Ballard, em que em geral não toco porque especialista em "science fiction" e cansei do gênero com H. G. Wells (...). O filme é como comida chinesa. Meia hora depois você está com fome. Spielberg adora máquinas, o que ele faz de um Mustang (caça americano na Segunda Guerra) é o que imaginamos da mulher amada em nossos sonhos. Há maquinária praca, cenas de massa etc. A ambivalência moral de Ballard, nem sombra. (...) Spielberg quer ser levado a sério. Ganhar o prêmio da academia. (...) Mas "Empire of the Sun" não é a porcaria habitual. É alto "kitsch".
(Folha de S. Paulo, 17-12-87)
Se eu tivesse de escolher um filme como crítico de cinema (...), considerando qualidade e a saúde da indústria, "Império do Sol", de Steven Spielberg, seria o premiado. Não é que eu tenha gostado muito. Mas é como um desastre de rua ou incêndio. "Tu" olha. Spielberg conseguiu pôr mais extras em Xangai do que deveria haver de gente na cidade nos anos 40 (...). É o que chamam um espetáculo. E Spielberg é fascinado, como eu, por aviões de combate da Segunda Guerra, como o Mustang, p-51 e o Zero, que transforma em máquinas-deuses, dando a cada um uma iluminação e uma presença que nos (a mim pelo menos) fazem bem. O romance de J. G. Ballard, "Empire of the Sun", é bem mais sutil e realista (...). O fato é que Spielberg tem um fetiche por objetos, máquinas, em especial. Ele fotografa coisas com efeitos especiais do escambau. (...) O filme é coisas, explendidamente fotografadas.
(Folha de S. Paulo, 31-12-87)
E "Império do Sol" é um filme respeitável, adulto, em que Spielberg consegue mesclar seu fascínio por máquinas, tecnologia, com a amargura do romance de J. G. Ballard. É talvez um tanto cansativo, porque excessivo como espetáculo (poderia ser reduzido uns 15 minutos), mas Spielberg tirou o seu "brevet" como cineasta.
(Folha de S. Paulo, 03-03-88)
(Crédito da foto: www.americanas.com)
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