Assim pensava Paulo Francis 3
[Graham] Greene não diz palavra sobre a contribuição de [Orson] Welles ao filme [O terceiro homem], uma fala expressiva que [Andrew] Sarris considera niilista, aquela em que ele diz que os Borgias governaram a Itália por 30 anos, com guerras e o diabo, e houve a Renascença, enquanto que os suíços tiveram 500 anos de amor fraternal e produziram o cuco. A fala não consta do 'script' de Greene (que ele publicou como noveleta). Mas Welles, que a deve ter inventado, ganhou mais fama por esse papel do que por 'Cidadão Kane', digo, como ator.
(Folha de S. Paulo, 06-02-88)
E em 'O Terceiro Homem', sua aparição maravilhosa numa entrada de rua em Viena, com zítara, gato, luzes do diretor Carol Reed e sua cara de lua, irônica e detaché. Falando nisso, quem escreveu que os suíços em 500 anos de paz produziram só o cuco não foi Welles, foi Graham Greene, autor do 'script'.
(Folha de S. Paulo, Revista d, 21-10-90)
Que bobagem Orson Welles diz em O terceiro homem, The third man, estragando o script de Graham Greene. Fala que em quinhentos anos de paz os suíços só produziram o cuco. Os suíços produziram Rousseau, que é a raiz de todo o pensamento revolucionário, fonte e origem do conceito pós-religioso de utopia. E Calvino, o pensador religioso mais influente depois de Jesus Cristo.
(O Estado de S. Paulo, 20-05-93)
Rodando o botão pelos cabos, dou com "O terceiro homem". Orson Welles, no elevador, pontifica para Joseph Cotten que a criatividade humana vem de conflitos. A Itália, sob Borgias e Medicis, gerou a Renascença. Já na Suíça, continua Welles, "Harry Lime", 500 anos de paz, deu o cuco. Cinéfilos têm muito orgulho dessa "filosofada" de um dos seus ícones. A Suíça deu Jean-Jacques Rousseau, que é o pensador humanista mais revolucionário que já existiu. (...) Suíço é também Calvino, o pensador religioso mais influente depois de São Paulo, apóstolo.
(O Globo, 10-07-94)
O que disse a respeito Orson Welles: Tudo o que lhes quero dizer, é que escrevi inteiramente o papel de Harry Lime, porque me pus a pensar nessa personagem procedendo por piadas. Não sou o autor da anedota do cuco, tirei-a duma peça húngara. Agora, sabem, cada peça húngara é o plágio de outra peça húngara, a quem atribuir a paternidade dessa anedota? Lembro-me de ter ouvido essa piada na minha infância, não exatamente a mesma, mas quase. Vêem que é uma piada muito velha. E o mais engraçado é que o relógio cuco é fabricado na Floresta Negra, não na Suíça.
(Entrevista a André Bazin, Charles Bitsch e Jean Domarchi, publicada nos Cahiers du Cinéma nº 87, setembro de 1958)
Um comentário:
Só uma coisa a dizer....
ROSEBUD...
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