'No Portal da Eternidade' Me Causou Desconforto
Para quem começou a frequentar o cinema há 60 anos, como eu, não é fácil aceitar o cardápio que a indústria do cinema oferece atualmente. Por exemplo, "No Portal da Eternidade" (At Eternity's Gate, 2018), de Julian Schnabel, é sobre o pintor holandês Van Gogh, autor de pinturas maravilhosas, retratos reveladores de um olhar e espírito aguçados, focados na natureza, ainda que não apenas nela. O que esperar de um filme sobre Van Gogh e sua obra? Eu esperava uma fotografia impecável, requintada, que faça justiça ao olhar privilegiado do artista. Não foi o que encontrei, infelizmente.
O público que sustenta o cinema é composto, em sua maioria, pelos jovens. Suponho que os jovens de hoje em dia vêm filmes no smartphone ou no Youtube, e não estão nem aí para imagens requintadas. O meu conceito de fotografia cinematográfica, desenvolvida e aperfeiçoada há mais de 100 anos, é de enquadramentos perfeitos, iluminação sofisticada, movimentos de câmera sóbrios na maior parte do filme.
Pois bem. Pelo que ando vendo no cinema, tudo isso acabou. No caso de "No Portal da Eternidade", achei a fotografia "prejudicada" das mais diversas formas. Raramente o enquadramento mostra algo belo aos meus olhos. A iluminação nem sempre mostra com clareza espaços, pessoas, objetos. Isto, quando não é propositadamente poluída por flair (reflexo do sol na lente) e por mais sabe-se lá que processos de interferência nos enquadramentos.
A câmera trepida quase o tempo todo, a ponto de me causar desconforto visual. Em vez da beleza visual associada à obras do pintor, há uma confusão perturbadora e generalizada, talvez para transmitir ao espectador a confusão mental em que vivia Van Gogh. Pode soar genial aos olhos do público atual? Talvez sim, que sei eu? Mas é o tipo de filme que eu jamais vou querer ver outra vez.
(Foto: Google Imagens/movies.uk.com)
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