20 de fevereiro de 2019

O Melhor de 'Assunto de Família É o Roteiro

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O japonês Hirokazu Kore-eda, diretor de “Assunto de Família” (Manbiki kazoku, 2018), é o queridinho da crítica, no momento. Basta ver que, no ano passado, o filme venceu o Festival de Cannes.

No começo do filme, um homem de seus 50 anos, pois seu cabelo já começou a embranquecer, encontra na rua uma criança, uma menina, e a leva para casa para lhe dar comida. Na casa dele, a família parece ser muito unida, apesar da pobreza evidente. Há uma mulher idosa, chamada de vó, duas mulheres jovens (um talvez no final da adolescência, a outra um pouco mais velha) e um garoto por volta dos 10 anos. A vó reclama de mais uma boca para alimentar, a comida é pouca. O homem sai com a menina, tenta se livrar dela, mas acaba trazendo-a de volta.

Dá-se a impressão de que a família é composta pela avó e um pai com duas filhas e um filho. Para nós, ocidentais, todos os japoneses são parecidos. O garoto pratica furtos nas lojas da vizinhança e ensina a menina a fazer o mesmo. Apesar da vida difícil, a família é unida e parece que todos estão muito bem assim. Deduzindo-se pelas aparências, trata-se de uma família feliz.

Um dia, acontece algo estranho: a moça mais erada tira a roupa e o “pai” faz amor com ela. Depois, o garoto tenta fazer um furto, não consegue fugir e acaba pego. O garoto confessa que ele falhou intencionalmente, para poder voltar à família biológica. O caso vai para na polícia e outras novidades vêm à tona. A jovem mais erada matou o marido, um sujeito execrável, com a ajuda do suposto pai do grupo familiar. Mas assume ter cometido o crime só, para não implicar o bom homem que a ajudou a se livrar do marido.

Aos poucos, o espectador vai descobrindo que, na família pobre mas feliz, ninguém é parente de ninguém. A intenção do filme, a meu ver, é mesmo mostrar que a família é feliz justamente pela ausência de vínculos de consanguinidade entre seus membros. Todos parecem ter fugido de suas famílias verdadeiras. A mulher que matou o marido, destruindo sua família verdadeira, porque nela não era feliz. Os outros três jovens fugiram de suas famílias biológicas por justo motivos, inclusive maus-tratos.

Na minha avaliação, portanto, o filme demonstra que uma família só pode ser feliz quando todos têm por objetivo sobreviver, não importa se cometendo crimes, e, de preferência, sem laços de sangue. Porque as famílias biológicas são um horror.

Após resolvida a questão policial, a família do garoto é localizada, mas nenhum parente dele aparece para resgatá-lo. Mas o chefe de família fake o acompanha até a estação de trem, onde se despedem como verdadeiros pai e filho, e o garoto parte sozinho. Um espectador distraído poderia ver aí um furo do roteiro. Nada disso. É o argumento cabal de que a família biológica só é fonte de infelicidade de seus membros.

Gostei do roteiro do filme, que apresenta os fatos sem antecipar nada. Os acontecimentos se sucedem e, a partir deles, o que está oculto vai se revelando.

“Assunto de Família” concorre ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira.

(Foto: Google Imagens/msn.com)

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